segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Polêmica

Visitei minha mãe neste domingo graças à carona de minha irmã. Já fazia um bom tempo que não a visitava, me justificava a mim mesmo dizendo que aquela não era a minha mãe... minha mãe era a anterior ao Alzheimer e eu, na verdade, não suportava era a reação de não ser reconhecido. No domingo pelas 16 minha irmã chegou comigo à clínica e a enfermeira veio até o portão com D. Odette... as duas de braços dados e ela toda sorridente chegou ao portão interessadíssima nos prédios que estão construindo do outro lado da rua. De repente ela nos viu e disse: - Que legal! Visita pra mim. Ela e o Serginho vieram bater um papinho. Entramos, nos sentamos e ela teve muitos momentos de lucidez. Riu até nos contagiar, como sempre, e nos abraçava e beijava o tempo todo dizendo que nos amava. A polêmica é sobre a decisão de clínica ou contratar profissionais para manter uma pessoa com Alzheimer em casa. Nós tomamos a decisão a favor da clínica após muito esforço em contrário. Contratamos uma excelente funcionária que se dedicava incansavelmente, mas, cansava. Colocamos na primeira clínica e ela ficava como uma criança na "escolinha", minha irmã levava de manhã e ia buscar quando saía do serviço. Mudamos para outra clínica por alguns motivos que nem convém explicar. Nesta outra clínica há acompanhamento psicológico para os internos e para as famílias dos internos e minha irmã se convenceu, e também a mim, que ela necessitava ficar interna já que, assim, teria referência de estabelecimento facilitando seu dia-a-dia. Todos sofremos no início, minha irmã ia todos os dias assim que saia do serviço e mal dormia sozinha em sua casa por não ter a mãe dormindo no quarto ao lado. O tempo ensina e a melhora nas atitudes dela demonstraram que a internação havia surtido o efeito que a psicóloga reportara. Eu, por pura falta de tempo, não participei de nenhuma seção junto à psicóloga, mas, me conformava com a não presença de minha mãe e sim do Alzheimer. Ontem, com o reconhecimento e os lampejos de lucidez, encorajei-me a voltar mais vezes. Acho que minhas visitas se tornarão mais periódicas e eu me sustentarei mais com minha presença do que com minha consciência. Muito fácil tomar partido a favor ou contra, mas, quando se vê o tanto que a atenção contínua de profissionais pode evoluir há que se entender.

Um comentário:

Aliz de Castro Lambiazzi **jornALIZta** disse...

Sérgio,

você já assitiu ao filme Diário de uma paixão? Se não, então veja, você irá se emocionar. Ele mostra um amor verdadeiro que se dedica muito para conseguir viver, pelo menos mais uma vez, esses poucos minutos de lucidez, e se deleita enquanto eles duram.

A dor de ser esquecido por uma das pessoas mais importantes da nossa vida deve ser um medo que todos temos. Mas é preciso enfrentar, porque com a nossa ajuda, esses minutos podem acontecer mais vezes e recompensar a dor também de quem esquece. O amor por trás disso tudo nunca é esquecido, você sabe.

Um beijo.